Lourenço – a muito custo e com um ar enfadonho (o que não é de estranhar tão enfastiado e entediante é o entrevistador da RTP) – a uma questão sobre a coincidência do seu aniversário com a presença de “Ticelitium”, ainda que auto-imposta, em Angola, ia mesmo para dizer que em política não há confidências para jornalecos e publicistas de pacotilha, mas acabou por dizer que não há coincidências, como poderia ter dito o contrário, se acaso lhe viesse isso à cabeça e justificar-se assertivamente no seu tom monocórdico e aborrecido próprio de quem está a fazer um frete.
Por Brandão de Pinho
Claro que os “mass media” tugas trataram logo de analisar isso –com aquele jeitinho condescendente de ex-colonizador – como a manifestação de uma grande amizade pessoal muito acima das relações políticas costumeiras entre países normais, materialização de uma pretensa grande irmandade como seria a dos países de língua oficial portuguesa.
A entrevista apanhou-me de surpresa pois tenho andado ocupado e pensava dedicar a noite de carnaval, vazia que estava a casa – pois afinal é a noite de os foliões se dedicarem a rituais pagãos celtas de outrora – às minhas escritas, nomeadamente a uma epopeia em verso, com claras influências de Edgar Alan Poe e Fernando Pessoa, na qual ando a labutar há algum tempo, sobre um antigo império que caiu em decadência.
Adiante. Tendo eu escrito 3 capítulos da mais fina poesia e com um sorriso rasgado por a pena me fluir tão maneirinha, cheguei a pensar que esse seria o “Meu Dia Triunfal” como acontecera com Pessoa num 8 de Março longínquo quando criou Alberto Caeiro, ou melhor quando este criando aquele deu a ideia de que foi criado por aquele primeiro. Afinal não “Haver” limites entre criatura e criador…
Pensei que fenómeno algum me poderia distrair do meu dia triunfal – o meu 4 de Março jamais irrepetível – e coincidência das coincidências também escrevia numa mesa alta e mal sentado por a dependência onde escrevo estar declaradamente em estado de sítio e eis se não quando vou ligar a televisão para sintonizar a TPA baixinho numa espécie de som ambiente e num lapso freudiano faço zapping na RTP onde vislumbro numa daquelas cansativas e confusas notas-de-rodapé alusões à entrevista de Sua Excelência o Sr. Presidente da República de Angola.
Lutei com todas as minhas forças mas uma vozinha ao ouvido só me dizia: – São só 35 minutos e até faz bem para assentar ideias … e afinal Miguel (essa voz trata-me por Miguel quando me quer dar a volta) mereces uma recompensa pois escreveste 3 poemas!!!; pelo que a custo e contrariado lá fui ouvir o Querido Líder a ser entrevistado pelo sonsinho do – agora falha-me o nome – que confunde as entrevistas com conversas de engate e namoricos e foi vê-los a trocarem sorrisos e a lançar charme um ao outro, mais o Estica e menos o Bucha – se me é permitida esta liberdade jornalística tão acerrimamente defendida pelo Exonerador Implacável -.
Jlo mente com quantos dentes checoslovacos tem e a cara que faz a mentir ou a dizer verdade, verdade seja dita, parece-me a mesma.
Mentiu quando disse que foi por omissão que não referiu Portugal na sua tomada de posse. Mas alguém acredita que um dirigente angolano se possa esquecer do colonizador desde há 400 anos excepto nos últimos 40 anos? Eu jamais me esqueço dos espanhóis que há 400 anos tentaram colonizar os meus antepassados por 40 anos.
Mentiu quando disse que não há fome – apenas aqui ou ali uma ligeiríssima má-nutrição – o que olhando para a proeminente pança de Jlo mal disfarçada pelos fatos de bom corte poderia perfeitamente ser premonitório da real situação do país real. Mas não é. E não o é só devido à seca do Sul.
Mas a sua maior mentira foi ter dito várias vezes ao longo do tempo que se falava melhor português em Angola do que em Portugal e de quase me ter convencido disso quando na realidade se fala mal nos 2 países (jornais incluídos mas mais nos de Portugal) pese embora, como desculpa haja sempre o argumento de a língua ser complexa e difícil – mas não sendo não poderia plenamente servir de instrumento para a consubstanciação oral das nas nossas mais profundas e viscerais ideias – o que foi visível na conversinha de engate que a RTP –talvez por ser Carnaval – nos obrigou a assistir enquanto melifluamente se derretiam – entrevistado e entrevistador – um para o outro.
Foram duas vezes em que prevaricou Jlo no mesmo erro, que por muito que me custe estar aqui a denunciá-lo, apesar da culpa ser mais dos assessores que teriam a obrigação de impedir que usasse o verbo “Haver” no infinitivo quando deveria usar a forma verbal “Houver” gramaticalmente a forma correcta nas duas situações (pois na flexão do verbo haver na 1ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo e, justamente neste caso, na 3ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo não se usa o “Haver”).
É assim que se apanha um cocho Sr. Presidente, apesar do verbo “Haver” ser irregular até aos ossos e muita boa gente o usar mal. Se lhe serve de consolo eu às vezes na linguagem oral uso propositadamente mal formas verbais deste verbo para não parecer que me estou a dar certos ares e também V. Ex.a pode alegar que não se trata de um erro mas de uma tendência da língua que é um organismo vivo que não pode ser controlado por académicos e que como tal está correcta a maneira exótica de V. Ex.a se pronunciar.
Também poderá alegar ser um regionalismo do Lobito. Alguém a quem pague pare estas coisas que arranje maneira de resolver este irritante assunto.
Antes de continuar amigo leitor, apesar de ser português, gosto muito de Angola como já demonstrei e devem ter percebido e só por isso que me acho no direito de criticar o Presidente, mas confesso que não gosto de ouvir críticas feitas à sua pessoa por jornalistas e comentadores portugueses, apesar de por falta de coragem nunca serem críticas directas mas implícitas e dou dois exemplos nos parágrafos abaixo.
Primeiro: um dos comentadores da entrevista – da qual fazia parte o doce, brando e mansinho Agualusa (quem o viu e quem o vê, ou melhor quem o leu e quem o vê) – perfeita e perfidamente banal, quase boçal, um lisboetazeco daqueles de trazer por casa, certamente por causa da questão do “Haver” versus “Houver” mandou uma boca de que Angola ainda precisava de melhorar muito a educação sobretudo o domínio da sua língua nacional, o português.
Segundo: o jornalista “tuga” naquele joguinho de sedução mútua com que quase nos fizeram vomitar, não foi capaz de usar a palavra “Marimbondo” e quando deveria usá-la – aquando da introdução do tema da corrupção – referiu-se a um vespeiro que como se sabe é o nome colectivo para conjunto de vésperas, tal como enxame o é para as abelhas, mas que jamais deveria ser relacionado com marimbondos.
Para terminar e tendo eu tido o objectivo de ser curto e objectivo para não maçar o amigo leitor devo referir que se Jlo não der um passo decisivo para a revitalização da CPLP no seu próximo tirocínio – e duvido que com o ignorante, contumaz e misógino presidente do Brasil a roer a corda do outro lado tal seja possível – será o fim anunciado de algo teoricamente bonito mas que começou logo mal na escolha do nome cuja sigla tem 4 consoantes e não pode ser pronunciada como acrónimo.
Qual seria o mal de anip (ANIP)? A anip isto e anip aquilo não fica logo no ouvido?
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